sábado, 20 de fevereiro de 2021

A Máquina Social do Admirável Mundo Novo, por Taná Fragoso

 A máquina social citada por Aldous Huxley em seu "Admirável Mundo Novo" é uma imagem pouco mais elaborada da realidade que se observa na modernidade. O principal artifício para o funcionamento desse sistema é a aceitação espontânea daqueles que carregam as ferramentas de manutenção dessa máquina, de forma a acreditar que essa é a verdadeira maneira de viver, a genuína liberdade.

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Fluir, tornar-se moldável, temporário e instantâneo. Essas são as características que descrevem as relações sociais, econômicas e políticas da sociedade contemporânea. A liquidez da qual Zygmunt Bauman discursava é o resultado de uma série de metamorfoses das quais a civilização evoluiu, tanto para uma ascensão tecnológica e antropocêntrica quanto para a crescente instabilidade dos vínculos humanos e a incapacidade de enxergar um horizonte maior do que o dinheiro e o status podem comprar.

A modernidade líquida é uma expressão sociológica que se aplica através do macrocosmo capitalista, mas que começa, como toda e qualquer estratégia de dominação, na base da máquina social; no microcosmo das organizações mundiais. Várias foram as revoluções que ambicionavam uma mudança nos padrões hierárquicos. A Primavera dos Povos e a I Grande Revolução Industrial, além de terem transformado as relações sociais e de trabalho, também foram responsáveis por criar um mundo polarizado, em que cada um dos grupos que controlam a sociedade acreditam em uma forma diferente e oposta de estabelecer as regras da vida política.

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Através dessa separação, as condições sociológicas foram propícias para o surgimento de uma nova era mundial; a era da instantaneidade e da falsa liberdade. A máquina social citada por Aldous Huxley em seu "Admirável Mundo Novo" é uma imagem pouco mais elaborada da realidade que se observa na modernidade. O principal artifício para o funcionamento desse sistema é a aceitação espontânea daqueles que carregam as ferramentas de manutenção dessa máquina, de forma a acreditar que essa é a verdadeira maneira de viver, a genuína liberdade. Porém, essa mesma liberdade é exercida paralelamente às inúmeras regras que devem ser cumpridas para que se possa adentrar no mundo globalizado.

Como Shakespeare escreveu e Huxley contextualizou ironicamente, "Para os deuses somos como moscas para as crianças travessas; matam-nos para se divertirem." As conexões humanas tornaram-se cada vez mais dramas de roteiros cinematográficos, os relacionamentos não são feitos para durar e o amor é uma procura constante de prazer provisório. As redes sociais tornaram-se as juízas da vida alheia, a busca pela felicidade, primeiro, deve agradar o coletivo e, depois, o indivíduo; uma grande controvérsia em um mundo em que o individualismo impera. Na modernidade líquida o indivíduo tornou-se um ser coletivo e o egoísmo, global.

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Construiu-se uma distopia subliminar no planeta Terra, um sistema controlado não por um Grande Irmão, como foi a sociedade profetizada por George Orwell no livro "1984”, mas sim, vigiada por toda a população mundial através das mídias e passível de condenação por qualquer desvio cometido. A liberdade não passa de uma jaula com telas de televisão, tão bem colocadas por Ray Bradbury em "Fahrenheit 451". A humanidade precisa reagir, reconstruir os pilares sociais substanciais e emergir da profundidade caótica em que se encontra. Por fim, precisa-se recuperar o senso de privacidade e reaprender a conviver de forma harmônica, respeitando os limites mais primitivos de cada ser humano.



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